viernes, 17 de junio de 2011

Preconceito é o principal problema enfrentado por ciganos no país


De acordo com o professor aposentado da Universidade Federal de Goiás (UFG) Ático Vilas-Boas da Mota, que estuda a cultura e a história cigana no Brasil, o preconceito contra esses povos é "coisa antiga" e ocorre porque a população em geral não aceita pessoas que vivem de forma diferente.

Já para a estudiosa Cristina da Costa, que tem cinco livros publicados sobre essa minoria, a falta de conhecimento e de pesquisas sobre a condição de vida dos ciganos no Brasil, aliada à inexistência de políticas públicas, alimenta o preconceito.

"Se meu time ganhava é porque eu tinha feito feitiço. Se sumia um lápis ou borracha de um colega, a primeira pasta a ser revistada era a minha. Foi assim muito tempo", afirma.

Representando os ciganos no conselho da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Mirian diz que os ciganos de hoje ainda têm desafios para estudar: convencer os pais e vencer o bullying. Para muitas comunidades, a melhor escola é a família, que pode ensinar as tradições e os costumes..

Criado longe dos acampamentos, na capital fluminense, o professor de música da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Antonio Guerreio, de 62 anos, cujo pai era Calom e a mãe inglesa, do clã Rom, não teve problemas na escola, mas fala da discriminação que persegue os ciganos mesmo adultos. Por isso, segundo ele, poucos assumem sua ascendência.
A Secretaria de Direitos Humanos, que desenvolve ações para emissão de documentos em comunidades tradicionais como indígenas, quilombolas e ribeirinhas, informou que não existe nenhum programa específico para os acampamentos ciganos.
A falta de políticas públicas específicas para a população cigana é, hoje, o maior desafio do governo federal para melhorar a qualidade de vida dessa população, respeitando as peculiaridades culturais. Entre as poucas ações governamentais adotadas recentemente está a instituição, em 2006, do Dia Nacional do Cigano, lembrado (24 de maio). A data é uma homenagem à padroeira Santa Sara Kali.
O desconhecimento acaba levando à discriminação contra esses povos, tratados, muitas vezes, como ladrões e vagabundos. Um dos exemplos do preconceito está guardado no arquivo histórico do Senado Federal: o Decreto 3.010, assinado pelo então presidente Getúlio Vargas em 1938, um ano após instalação do Estado Novo. A norma restringia a entrada de estrangeiros no país e impedia que “indigentes, vagabundos, ciganos e congêneres” ingressassem em território brasileiro.

No Brasil, atualmente, predominam três clãs ciganos: os Rom (vindos da ex-Iugoslávia, Sérvia e de outros países do Leste Europeu), os Calom (que vieram da Espanha e de Portugal) e os Sinti (vindos da Alemanha, Itália e França).